Algo em torno de 182.000 Boardgamers compareceram durante os dias 26 e 29 de outubro na famosa feira internacional de jogos em Essen na Alemanha. A Spiel deste ano contou com mais de 1100 expositores de 51 países e provou cada vez mais que o hobby dos Boardgames está em viés de alta. Neste relato vou contar para vocês as minhas impressões da feira deste ano. Vamos lá! O primeiro momento é sempre de estupor. São sete pavilhões recheados não só de jogos de tabuleiro, mas também com RPGs, quadrinhos, literatura fantástica, bugingangas nerds e cosplayers. Passado o primeiro momento de orientação, cada segundo conta. Existem muitas maneiras de visitar a feira. Há quem vá lá lutar pelas pechinchas, há quem queira encontrar os autores, outros vão testar os jogos mais hypados. Muitos estão ali para fazer negócios, vender seu jogo, conhecer gente. Alguns vão com o seu grupo de amigos e se deixam levar por aquela insanidade de opções. A minha experiência misturou um pouco de cada coisa. No primeiro dia, em que cheguei já tarde, preferi passear pelos Galpões para me situar. Os estandes que mais me chamaram a atenção foram os da Kosmos pela quantidade de jogos expostos, o da Asmodee pela pirotecnia de telões e jogos em formato gigante e o da Pegasus que parecia uma casa, com os vários cômodos destinados para os diferentes gêneros de jogos. Me surpreendeu o estande da CMON ser tão pequeno e também por estar um pouco escondido pela importância que a empresa ocupa no atual cenário. Parei no estande da Hippodice, uma associação alemã que oferece prêmios e bolsas para desenvolvedores de jogos, e joguei uma partida com Fabio Lopiano, autor do hit Calimala e vencedor do prêmio Hippodice, do seu novo jogo ainda em fase de protótipo. Um Worker placement sobre produzir e pintar vasos chineses, cujo diferencial é que onde se faz a ação se pode deixar um aprendiz que pode realizar aquela ação nos turnos subsequentes. Ou seja, você planeja já as suas futuras ações abrindo espaço para combos interessantes nas próximas jogadas. Na minha opinião, ainda faltava polir um pouco a engrenagem pois ainda mostrava problemas na ordem dos jogadores: o último ficava em clara desvantagem. No entanto, o jogo tem muito potencial e deve fazer sucesso no próximo ano. Depois fui para o encontro que tinha com a Korea Board Games, que infelizmente não saiu como esperado. Eles tinham testado e gostado muito de um jogo meu há dois anos e queriam retestar para saber se encaixaria na proposta da empresa. Dois anos é muito tempo e a empresa deles se consolidou mais como uma editora de jogos de família. Uma pena! No segundo dia chegamos bem cedo e depois de vencer a guerra por um lugar no estacionamento, estávamos eu e o Phillip, um grande amigo, prontos para testar jogos. O primeiro que testamos foi o Decrypto, da Scorpion Masquée, um jogo de dedução que segue a cartilha de Codenames. O diferencial deste jogo é uma geringonça de papelão que parece um computador e que faz com que palavras-chave apareçam para os times. Com base nessas palavras os jogadores têm que pensar em outros conceitos que remetam ao código e dizer-los na ordem da carta de missão que receberam. Enquanto Codenames cria um nível de abstração com relação ao objeto - digamos da palavra gorila eu posso dizer zoológico - em Decrypto os conceitos básicos se mantém até o final do jogo e em cada rodada novos conceitos se vão somando ao inicial. Ou seja, meu time poderia dizer sobre a palavra-chave gorila zoológico na primeira rodada, na segunda banana, e na terceira alpha. O interessante é que o outro time também pode ouvir as pistas e tentar interceptar nosso código. Ou seja, nem tão fácil e nem tão difícil ganha um novo significado neste jogo que me cativou. Logo em seguida passamos pelo estande da Vesuvius, uma parceira internacional da Mandala que publicou a série Dwar7s de Luís Brueh. Um atendente muito empolgado e solícito comentava que o jogo estava sendo um sucesso e que logo acabaria. Havia 5 mesas concomitantes de Dwar7s o que já atesta o investimento e o protagonismo do jogo dentro da editora. Sentamos para jogar, mas, infelizmente, a pessoa que nos explicou esqueceu alguns detalhes importantes das regras e, somado à antipatia dos jogadores que sentaram por acaso na nossa mesa, resultou numa experiência abaixo da expectativa, que estava bem alta. O que se pode dizer é que o jogo está muito bem feito, a arte e o design são lindos e que o princípio é muito interessante. Tenho que jogar de novo com as regras corretas. O que me chamou a atenção, no entanto, foi a cópia de Covil que estava ali. Infelizmente não tinham para vender pois era exclusivo do Kickstarter. No outro dia voltei para comprar minha cópia do Dwar7s, mas já estava esgotado. Nas lojinhas da feira ainda achei uma cópia, mas pelo dobro do preço! Sem dúvida um sucesso na feira. Depois, passamos por um projeto ainda no Kickstarter de um jogo que se chama Museum. Jogamos uma partida, mas a dinâmica não me chamou muito a atenção. Trata-se de um jogo de cartas com set collection em que os jogadores são curadores de museus e têm de montar exposições com objetos das mais variadas culturas. Como tinha pouca interação, cada um ficou montando seu museu sem perceber o que os outros estavam fazendo. Há uma regra avançada de empréstimo de objetos que insere mais interatividade no jogo, quem sabe assim fique melhor. O Phillip, por outro lado, gostou muito do jogo e decidiu que vai backear o Kickstarter. A parte boa é que se nota que havia algum historiador envolvido já que todas as cartas vêm com explicações sobre os artefatos, que fogem dos clichês clássicos como a máscara de Tut-Ankh-Amun. Em seguida passei pelo stand da Board and Dice, que estava sempre lotado, e joguei SuperHot, adaptação de um conceituado jogo de video-game, explicado pelo seu criador Manuel Correia. O designer português conseguiu neste seu segundo jogo duas façanhas: criar um sentimento de First Person Shooter e inovar dentro da já batida mecânica de Deck Building. No jogo, que brilha na variante solo, você tem que lidar, usando as cartas da mão, com os Caras com Escopeta (Dude with a shotgun), esconder-se atrás de móveis e fugir de balas. Ao fim da rodada, se alguém com uma arma ainda estiver em jogo, ele atira e uma carta de bala vai para o baralho que vai ser usado para alimentar o deck de perigos. A novidade aqui é que as cartas que você anula vem para a sua mão na próxima rodada, ou seja, você deve planejar seu turno levando em consideração os efeitos da carta que você quer anular no jogo, mas também as cartas que você quer usar no próximo round. Isto dá espaço para combos bacanas que devem ser usados para cumprir os mais diferentes objetivos do jogo, as chamadas missões. Altamente recomendado para os entusiastas de jogos solo, especialmente por ter muitos graus de dificuldade, criando um clima de passar de fase no video-game. Além desse jogo, comprei o primeiro jogo do Manuel, Multiuniversum, que já viu bastante mesa aqui em casa desde que voltamos de Essen. Este, inclusive, é mais o meu estilo No fim do segundo dia, saímos em busca de uma cópia de Gloomhaven, um jogo que gerou bastante buzz em Essen não só por ser um Dungeon Crawler inspirado profundamente pela nova geração de jogos Legacy e mecânicas de euros, mas porque a caixa é um verdadeiro monstro. São 10 quilos compactados numa caixa que é o triplo do tamanho de um jogo grande. Vi um carinha levando o Gloomhaven e perguntei onde ele tinha encontrado. Só tinha um estande vendendo, no Hall 7. Saímos correndo e, chegando lá, ainda havia unidades disponíveis. Phillip comprou e voltamos carregando aquele filhote de Tarrasque por toda a feira. A cara das pessoas quando nos via passar com aquilo era impagável. Mas o melhor era a cara de felicidade do Phillip com seu jogo novo. Semana que vem eu volto com o relato de sábado e domingo e as minhas impressões de jogos como Charterstone e Azul. Abraços! Pedro
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AutorPedro Martins joga o que aparecer pela frente, gosta de línguas modernas e antigas e de fazer seus próprios jogos. Histórico
Janeiro 2018
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