Aqui você acompanhou os meus dois primeiros dias em Essen. Neste post vou dividir as minhas experiências do sábado e do domingo. O sábado começou cedo porque o Phillip marcou uma partida de Shadowrun às 10 da manhã no estande da Pegasus. Tá pensando que era o Crossfire? Eu também estava, mas não era. Era Shadowrun 5ª edição - RPGzão raiz. Já estávamos à mesa quando o mestre chegou. Imagina uma pessoa narrando mesas sem parar durante dois dias inteiros: a voz era rouca, o suor escorria e o sobrepeso cobrava o preço na falta de ar. Pensei comigo mesmo, espero que cheguemos até o final da aventura! No começo um pouco de regras e algumas mudanças da 5ª edição, mas logo em seguida já caímos numa missão clássica de 'entre no edifício e roube um objeto valioso para um business man de caráter dubioso'. Passamos mais tempo fora do edifício planejando e agindo nos bastidores do que dentro. Demos um jeito de subornar Bob, o troll da limpeza, arrumamos uma chave do setor de segurança, tudo isso com excelentes interações com mestre que, apesar do cansaço, se garantia. No fim, subimos até o andar para dar de cara com um guarda armado que tomou porrada do grupo. Saímos dali com o objeto e com aquele sentimento gostoso de ter realizado o objetivo. Que saudades estava eu de jogar um Cyberpunk! Logo em seguida chegou a Elena, minha companheira da vida e dos jogos. Passamos pelo estande da Asmodée onde estava rolando uma partida de Exploding Kittens com cartas gigantes. Esta roleta russa com gatos maníacos que adoram explodir coisas é sucesso certo nos nossos grupos. Inclusive buscamos em vão na feira a versão Kickstarter em que quando se abre a caixa sai um miado. Logo em seguida fomos conferir o 5 Minute Dungeon da Kosmos. Um divertido party game cooperativo onde o grupo tem de vencer os desafios jogando cartas com símbolos correspondentes em menos de 5 minutos. Cada jogador escolhe um heroi ou heroína e recebe um baralho personalizado. É divertido, o pessoal riu bastante, mas, depois de três partidas, ficou a sensação de que era fácil demais. Em comparação com Magic maze, deixa bastante a desejar em profundidade, mas ganha em praticidade e portabilidade. Adorei o caos e a gritaria que o jogo proporciona e não recomendo para o pessoal que gosta de tudo no seu lugar. O próximo jogo a ser testado foi o hypado Azul de Kiesling. Demos sorte de pegar uma mesa com um pessoal bem legal e competitivo. O jogo encanta à primeira vista. A combinação de azulejos com as cores que eles escolheram dá um charme inegável à experiência, fazendo com que retirar os bloquinhos da bolsa, também ela muito bonita, te proporcione um prazer táctil singular. Trata-se de um jogo abstrato onde se deve colecionar azulejos da mesma cor à esquerda do seu board para fazer com que eles entrem na composição final que fica à direita. Nesta composição final acontece uma mecânica de Tetris, na qual os azulejos que entram nas linhas recebem mais pontos se estiverem alinhados a outros adjacentes. A mecânica de escolha de peças também é inovativa, criando situações estratégicas interessantes dentro da partida. Recomendo que vão atrás deste jogo nem que seja só para testar. O último compromisso do dia era passar pelo estande da Thundergryph Games que estava expondo dois jogos brasileiros, o Tao Long de Dox Luchin e Pedro Latro e o Pot de Vin do Warny Marçano e do Fel Barros. O pessoal me recebeu muito bem e foi um prazer conhecer pessoalmente o Warny que é um cara que manja dos paranauê e mantém a humildade. Outra boa surpresa foi o papo com o ilustrador do Pot de Vin, o Weberson Santiago, que, além de conseguir desenhar com um sorvete na mão, me presenteou com o livro dele sobre ilustrações políticas que ele fez pra Veja, um belíssimo trabalho. Comprei o Pot de Vin porque, como moro na Alemanha, não sei qual seria a próxima oportunidade de testar esse jogo, que tem cara de ser um truco modernoso. O Hilko Drude, um cara que conhece dos jogos rápidos, também chamado injustamente de fillers, fez uma resenha ovacionando o Sapotagem, jogo que o Pot de Vin reimplementou, sendo inclusive um dos 4 jogos que ele fez questão de comprar na feira. Estou com bastante expectativa. O sábado acabou num bar em algum bairro de Essen onde eu pude reencontrar bons amigos que não via há tempos. No próximo dia essa escapada cobrou o seu preço e chegamos atrasados ao compromisso das 10 da manhã: uma partida de Gaia Project no estande da Feuerland. Henning, um amigo do trabalho estava lá e quando eu cheguei todos ouviam a explicação com cara de meditação. Como eles nunca tinham jogado Terra Mystica era compreensível a cara deles. Não creio que a feira de Essen seja o lugar para jogar jogos com essa complexidade, a não ser que você já esteja acostumado com as regras. No fim, dei uma olhada, percebi algumas diferenças em relação ao Terra Mystica e saí do estande com a sensação de que foi bom ter acordado mais tarde. A arte de Gaia Project deixa muito a desejar em relação à Terra Mystica, mas esta é a única observação que eu posso fazer por hora e não vejo a hora de sentar com calma para testar essa reimplementação. Enquanto o Henning terminava sua partida jogamos Ticket to Ride - França, que não agradou, e Ice Cool, o hit que ganhou o Kinderspiel des Jahres deste ano. Jogos de peteleco estão na moda, retomando o espírito das bolinhas de gude, tazo ou geloucos da nossa infância. É bem bacana petelecar os pinguins através das portas do colégio para conseguir os peixes, enquanto o jogador que controla o diretor tenta petelecar o seu boneco contra os dos jogadores. Infelizmente jogamos a partida só com dois jogadores, o que deixou a partida um pouco sem sal. Às 12:00 tinhamos um compromisso no estande da Arles para jogar o Hunt for the Ring. Como somos apaixonados pelo War of the Ring estávamos com muitas expectativas por este jogo que prometia ser uma experiência completa realizada a partir da mecânica de caçada do anel do jogo-pai. Esta foi a mesa em que mais nos divertimos. Foi a primeira em que todos os meus amigos conseguiram se reunir. Phillip jogou com o portador do anel e eu, Elena, Martin e Henning éramos os Nâzgul procurando os hobbits. O jogo é um pique-esconde envolvendo as forças de Mordor. Os Nâzgul têm diversas ações para buscar nas regiões do condado, enquanto o Hobbit vai avançando secretamente por estradas, caminhos na floresta ou cidades. O Phillip conseguiu blefar muito bem usando suas cartas para nos fazer acreditar que estava indo pelo sul, quando na verdade estava fazendo seu caminho pelo norte. Só percebemos isso no meio do jogo que se tornou uma corrida para ver quem chegava primeiro perto de Bree. Os hobbits... é claro! Eu me senti de verdade como um Nâzgul fungando embaixo de árvores tendo os Hobbits ao meu alcance só para que no último momento eles escapassem. Assim como no War of the Ring este jogo consegue recriar a atmosfera da Terra Média, mas desta vez com uma roupagem Euro e com uma mecânica de movimento escondido muito bem implementada. O ponto negativo é que o jogo demora bastante, tendo dois atos. De Hobbittown até Bree e de Bree até Valfenda, que se joga do outro lado do tabuleiro. O primeiro ato nos tomou, com explicação, cerca de 2 horas. A anedota da partida foi que quando não entendemos uma regra do jogo que nem o explicador conseguiu solucionar, simplesmente fomos até o criador, que estava na mesa ao lado dando uma entrevista, e perguntamos. Ele, muito simpático, respondeu e concordou que a explicação no manual estava dúbia. Malditos Hobbits! Enquanto esperávamos pela nossa hora marcada para o próximo jogo, demos um passeio e uma coisa me assombrou. Por que todo ano tem sempre jogos com um tema meio nojento, meio escatológico? Já teve barata, monstro soltando pum e, neste ano, a porqueira ficou por conta de dois jogos sobre privadas. Isso mesmo, retrete, azulejo, WC, toilette. Claro que eu joguei. A saideira da feira ficou por conta de Jamey Stegmaier e seu Charterstone. Jamey quis trabalhar em cima da noção de jogos Legacy, que se desenvolvem no decorrer da partida, mas sem que ao final o jogo ficasse inutilizado. Com isso criou dois jogo em um. Nas doze primeiras partidas os jogadores montam uma vila com seus edíficios e, no final, eles têm um Worker Placement funcional que será único desse grupo. No jogo-teste pudemos experimentar a primeira partida, que já te mostra que o jogo tem muitas possibilidades. Adorei o que o autor fez com as cartas, colocando bolsinhas nelas para comportar os edíficios que serão construídos. O clock do jogo, que se movimenta conforme algumas evoluções no jogo acontecem, também me pareceu interessante, dando uma organicidade à partida. A nossa mesa investiu pesado em construção de edifícios, deixando algumas ações como o aeroporto, os objetivos, e os ajudantes subutilizados. Tive um espanto quando olhei a mesa do lado para ver que o board estava COMPLETAMENTE diferente. Ponto para Jamey. Eu fiquei com muita vontade de terminar as 12 partidas, mas confesso que tenho minhas dúvidas se o jogo final fica realmente bom ou o legal é só criar aquele mundo. Terei que investir em um Charterstone para descobrir. Enfim, Essen foi maravilhoso e já não vejo a hora de 2018 chegar. É meio clichê, mas no fim, de fato, o melhor é o pessoal que você conhece ou revê. É um lugar em que todos estão tão felizes, fazendo aquilo que gostam, que simplesmente cria um clima agradável para conhecer gente nova. Espero que tenham gostado do relato! Foi também? Deixa aqui seu comentário sobre a feira e sobre os jogos que você gostou/comprou. Um grande abraço, Pedro
5 Comentários
Christian
11/12/2017 07:25:40 am
Pedro!
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Pedro
11/13/2017 02:05:32 am
Christianinho!
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Fabrício
12/6/2017 09:32:21 am
Gostei do texto! Fluiu muito bem! Parabéns! Qual é esse jogo da privada?
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Pedro
12/7/2017 01:19:53 am
Valeu Fabrício!
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Fabrício
12/7/2017 11:49:18 am
Hahaha... sensacional! Continue com os textos! Tem muito relato interessante! Enviar uma resposta. |
AutorPedro Martins joga o que aparecer pela frente, gosta de línguas modernas e antigas e de fazer seus próprios jogos. Histórico
Janeiro 2018
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